12 de julho de 2009
18:43
A Busca da União
Author:
Patricia Guerra
Recebi essa mensagem hoje.
E em vista do meu ultimo post, achei pertinente publicá-la.
Nada é por acaso.
"Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-á" - Lc, 11. 9
Palestra de Trigueirinho em setembro de 1983.
A Busca da União
Ainda que as aparências tentem mostrar o contrário, a união é algo misterioso para a maioria. Que força move as pessoas à procura de uma complementação? Por que se sentem sós ou incompletas? E por que a união com outras pessoas, grupos ou idéias é quase sempre imperfeita ou efêmera? Estes são alguns pontos que buscaremos esclarecer agora, ao abordar a união de um ponto de vista amplo, universal.
Podemos considerar esta nossa conversa um trabalho pré-matrimonial, pois vamos fazer aqui uma espécie de preparação nupcial interior. Mas, para nós, as palavras matrimônio e núpcias terão sentido espiritual e não o que normalmente é atribuído a elas.
Preparar nossas núpcias espirituais ou internas significa harmonizar os diferentes níveis de nossa pessoa, alinhando-os com a alma, ou eu superior, que está em nível supra-humano.
Vivemos em diferentes níveis. Agimos no nível físico, e também sentimos e pensamos. Temos aí os três níveis do viver humano, ou seja, os três níveis da personalidade: o físico, o emocional e o mental.
Ao procurarmos unir a ação com o sentimento e o pensamento, estaremos alinhando esses níveis do nosso ser; e, na medida em que isso for sucedendo, na medida em que formos vivendo de forma integrada e harmoniosa, nossa personalidade irá sendo absorvida pelo eu superior (ou alma) – nosso núcleo de consciência no nível supramental, mais profundo do que a mente pensante e analítica.
Assim, aos poucos, nossa personalidade passa a ser a expressão desse núcleo mais elevado, a alma. Esse fato, extremamente renovador e necessário para a evolução do ser, é o que chamamos de matrimônio interior.
Todos estamos destinados a efetivar a união interna, pois ela faz parte do caminho de toda alma. Na verdade, é a alma que promove esse matrimônio, porque ela atrai a personalidade chamando-a para a unificação.
No princípio, quando ainda não compreendemos esse processo, buscamos diferentes experiências de união. A necessidade de união interna, com nossa própria alma, é interpretada como desejo de união com algo ou com alguém externo a nós.
Nessa fase, na maioria das vezes, os corpos da personalidade encontram-se desalinhados: predominam as forças de um ou de outro. Algumas pessoas ficam mais submetidas às forças do corpo mental, outras às do emocional. Há também as que se vêem muito envolvidas com forças ainda mais densas: as do plano físico.
Nessa situação de desalinhamento, enquanto fazemos determinada ação desejamos outra coisa, ou quando estamos num lugar queremos estar em outro, e assim a mente vagueia de pensamento em pensamento. Nosso ser vive fragmentado, disperso.
Ao buscarmos a união, assumimos conscientemente não só o alinhamento dos corpos entre si, mas também destes com o eu superior, porque é ele que custodia o propósito real, espiritual e evolutivo para nossa vida. É bom termos sempre isto presente, pois assim podemos colaborar com o processo.
Como a alma é núcleo de vontade, amor e inteligência puros, procuraremos agir de acordo com nossos sentimentos e idéias mais elevadas e, de maneira concentrada e inteligente, depositaremos nessa ação o nosso afeto e amor. Assim, amorosamente, vamos alinhando os três corpos entre si.
Mas para alinhá-los com o eu superior – e colaborarmos enfim para a almejada união – ofertamo-nos a esse nosso núcleo profundo de consciência, a alma, ou Deus dentro de nós.
Quando sentimos necessidade de nos complementar com outra pessoa, com alguma idéia ou coisa, de certa forma já estamos no caminho da unificação, pois nossas energias superiores assim nos atraem para a busca da verdadeira união. Entretanto, no início da trajetória não percebemos que estamos sendo conduzidos ao matrimônio interno, para o qual temos realmente vocação, e desse modo, à custa de decepções, de fugaz felicidade ou de sofrimentos, tecemos uniões superficiais e nos enlaçamos. É com o tempo, e com a experiência, que nos reconhecemos destinados à verdadeira união, e não a uma união fragmentada e com o que nos é externo.
Compreendemos finalmente que a busca deve dirigir-se às núpcias internas, à união dos nossos níveis pessoais com os transpessoais e universais. Daí por diante, o relacionamento com nossos semelhantes ganha muito em qualidade, pois encontra sua maior força: a fraternidade.
Os Três Matrimônios
Na busca do matrimônio interno, podemos adotar diferentes formas de vida: a solitária, a em que tem a colaboração de outro ser, ou a grupal. Vejamos algo sobre essas formas para eventualmente reconhecer qual é o nosso caminho no momento.
Em qualquer dos três caminhos estamos expostos a ilusões. Os que buscam a união na chamada vida solitária podem confundir-se em determinado momento ao pensar que por estarem nessa busca individualmente precisam isolar-se de tudo e de todos. Podem sentir-se pessoas separadas das demais, e esse é um dos perigos da vida solitária, que é muito benéfica, se sadia.
Quem está no caminho de buscar o matrimônio interno em colaboração com outro ser pode pretender que seu parceiro ou parceira seja igual a ele, ou achar que ele próprio tem de corresponder a expectativas. Ambos podem enganar-se e pensar que vão unificar-se, que vão tornar-se uma só ciosa, ou que deixarão de ser entes separados, sob certos aspectos.
Por natureza, o ego humano é separatista, e por isso não pode existir união perfeita nos níveis de personalidade. Se aqueles que têm como tarefa trilhar o caminho a dois, em colaboração, se libertassem desse engano e vissem nessa trajetória uma oportunidade de um ajudar o outro a realizar em primeiro lugar a união em si próprio, haveria mais equilíbrio e harmonia e a família não teria decaído tanto como núcleo social e espiritual. Como vemos, o matrimônio se faz dentro de nós e não só fora, socialmente.
Devido à expectativa dos parceiros de tornarem-se um só, inseparáveis, a maior parte dos casamentos converte-se em campo de árduo conflito e de contínuo esforço de ajustamento, o que exige muita dedicação e espírito de doação de ambas as partes, isso se considerarmos os melhores casos. Na maioria, o que ocorre são rupturas, quase sempre traumatizantes.
O terceiro caminho para as núpcias internas é o da vida grupal e nele também nos expomos a ilusões. Podemos, por exemplo, achar que o grupo é formado apenas pelas pessoas que participam dele no plano físico, e assim ficar apegados ao lado tangível da vida, a quem está presente, e consequentemente nos torna sectários em confronto com outros grupos.
Na verdade, a harmonia entre grupos com a mesma intenção facilitaria o matrimônio interno de todos os seres que os compõem, pois a força invocadora de um grupo integrado numa consciência universal é muito maior que a de um grupo isolado. E a alma, como sabemos, é sensível a essa invocação.
Se os membros de um grupo trabalharem no alinhamento dos próprios corpos da personalidade e destes com a própria alma, então eles, juntos, estarão realizando um matrimônio grupal. Cada um realiza esse trabalho em si mesmo, individualmente – pois é algo entre a pessoa e sua alma – mas todos se ajudam mutuamente e procuram exteriorizar em grupo a energia do eu superior.
Um grupo físico é composto de almas que integram outro grupo muito maior, invisível e interno, com consciência mais abrangente e atividade que se estende por várias dimensões, sendo a material, a mais limitada. Esse grupo interno é constituído por almas que seguem caminho semelhante de união com as respectivas personalidades; ou por almas que já transcenderam essa etapa e se preparam para a união com níveis mais profundos do ser.
É quando esquecemos que um grupo não é só um fato externo e objetivo que vemos os membros de outros grupos como antagonistas ou concorrentes. Na linha científica, na artística, na educacional, na religiosa ou na econômica há antagonismo entre grupos por causa dessa incompreensão.
Se nos considerarmos eus superiores e não só pessoas humanas, vamos descobrir nossa realidade mais profunda, e também que somos, sim, parte de um grupo, porém interno e universal, grupo que em certos casos até transcende os limites da órbita terrestre.
Portanto, nas três modalidades de matrimônio é preciso que nos consideremos almas em evolução, e assim nos manteremos enfocados em um nível elevado, espiritual. De outro modo, vendo-nos apenas como pessoas humanas, separadas das demais, corremos o risco de nos iludir e de desperdiçar assim importante oportunidade de crescimento e de serviço em determinada encarnação.
A Decisão
A forma pela qual decidimos empreender a busca da união – sozinhos, em colaboração com outro ser ou em grupo – é algo muito importante, que pode influir definitivamente em nosso destino.
Por isso, essa decisão não é para ser tomada com base só no que se passa com a personalidade. É o eu superior, por viver na consciência universal, que sabe como conduzir cada encarnação.
Perguntas como: “Devo permanecer solteiro?”, “Devo casar-me?”, “Devo fazer essa união grupalmente?”, não encontram respostas corretas e adequadas em nossa esfera humana. Para a escolha certa, tendências e afinidades pouco valem, dado que são circunstanciais e passageiras.
É bom saber, em princípio, que uma personalidade já equilibrada e amadurecida não apresenta preferência por nenhuma dessas três formas de busca, pois sabe que todas conduzem À mesma meta, que é interior. Qualquer dessas situações é tida como serviço, isto é, a pessoa coloca-se sempre na posição em que possa servir melhor.
Além disso, o nosso mundo superior tem formas inusitadas de nos esclarecer a respeito dos passos que devemos dar, mas humanamente nem sempre entendemos suas mensagens.
Ao nos responder sobre essas questões de união, por exemplo, o eu superior pode omitir informações que, embora esperadas por nós, são consideradas supérfluas quando vistas de um nível de consciência mais elevado.
Se não obtemos resposta clara a essas perguntas, mas ao mesmo tempo, não surge possibilidade de casamento, nem de vida grupal, então podemos concluir que a busca é para ser feita individualmente.
Muitas vezes a resposta está implícita em certas circunstâncias da vida, e se torna óbvia quando permanecemos serenos e imparciais.
Nunca devemos ficar ansiosos. Em certos casos, mesmo se tivermos de permanecer solteiros, poderão surgir ocasiões de casamento, dado que nas vidas passadas todos fizemos muitas ligações cármicas, e esses coligados podem cruzar de novo o nosso caminho. Mas esses encontros só são evolutivos quando vistos como ligações passadas que estão reaparecendo para se transformar ou sublimar e não para que sigamos impulsos naturais, em geral bem fortes. Trata-se, portanto, de provas para testar o nosso discernimento.
Como vemos, nesse campo, humanamente, pouco sabemos. Por outro lado, aquietados os desejos e as preferências superficiais, poderemos ouvir a silenciosa voz interior, indicando-nos com segurança o rumo certo a seguir.
Tudo o que de real e verdadeiro deve suceder em nossa vida é regido por leis supra-humanas e por isso chega no momento exato e determinado. De nossa parte, é melhor não precipitar os fatos, mas aguardar com serenidade para não agir em sentido oposto ao assinalado pelo eu interno.
Em outras palavras, isso significa que em nível de personalidade é sábio aceitar nossa condição atual (solteiros ou casados); a partir daí, as energias vão fazer o que tiver que ser feito, e emergirá maior clareza para continuar a busca da união ou para dar início a ela.
A atitude inicial de desapego, de aceitação básica, de invocação da vontade superior é imprescindível para que esse processo seja harmonioso, sem mágoas e sem conflitos. O desapego, ao contrário das aparências, é atitude muito dinâmica, e não passiva como muitos crêem.
Diz-se que só compreendemos a função evolutiva de uma situação ou de uma prova depois que a aceitamos. Quando um fato trazido pelo destino de maneira compulsória é aceito, o que ocorre em seguida estará em consonância com nossa necessidade verdadeira de progredir espiritualmente, e isso é o que mais importa para nossa alma, para o destino cósmico do nosso ser.
Que Somos Nós
Agora vamos dar um novo passo no preparo das nossas núpcias internas. Tentemos transcender a idéia humana de que somos nós que nesta vida fazemos experiências.
Se nos colocarmos num ponto de vista espiritual, poderemos perceber que é a Vida ou as energias que fazem experiências por nosso intermédio. É apenas uma falsa impressão, ou uma ilusão, acreditar que tudo o que pensamos, sentimos e fazemos sucede por nossa própria conta, sem respaldo do eu interior. Na realidade, somos pessoas vividas por uma energia sutil, nossa essência interna.
Quando identificados só com a mente humana comum, dizemos: “Eu penso assim, eu sinto assim, eu faço assim”. Essas são impressões superficiais de quem está numa etapa que, cedo ou tarde, terá de transcender para entrar na evolução supra-humana. Precisamente, o matrimônio superior, interno, ajuda-nos a efetivar isso. Leva-nos a uma dimensão nova e espiritual, e à manifestação da futura humanidade, mas sutil e universal em seu modo de amar.
Portanto, para os que buscam a união interna, já se aproxima essa grande transformação na forma de ver a realidade: “somos vividos, há algo que vive em nós”. No Novo Testamento, Paulo de Tarso diz: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim”. Há milênios essa nova visão do viver está sendo reconhecida e preparada, e agora está por fim ancorando em nossa vida consciente. Então, nessa sintonia, diremos: “Ele – o eu superior – age em mim, sente em mim, pensa em mim, vive em mim”.
Mas, para transcendermos a visão primária das etapas anteriores, precisamos abdicar de querer fazer, sentir e pensar como entes separados; precisamos desistir da ilusão do egoísmo, de querer impor-nos aos demais e a nós mesmos como personalidades. Porém, ao mesmo tempo, é necessário aspirarmos a que a Vida passe a fluir com inteireza através de nós. Dessa maneira, conscientizamo-nos de que existe um destino superior para nossa existência e um plano para este planeta onde nos encontramos.
A mente universal, da qual saímos e para a qual retornaremos mais experientes, deve viver plenamente em nós, que somos seus prolongamentos e canais pelos quais deve fluir a fim de que o mundo seja belo e evoluído, e a Terra inteira seja um planeta harmonioso, uma Nova Terra.
E para haver uma Nova Terra – conforme está profetizado – os seres humanos mais conscientes devem permitir que ela se manifeste. Nossa personalidade, os níveis conscientes do nosso ser, a mente, o coração e o corpo físico precisam perceber que chegou a hora de se doarem, para que realidades sublimes possam exteriorizar-se.
No momento em que deixarmos de ser o que temos sido e nos tornarmos receptivos ao que realmente somos num nível superior, as energias agirão em nós com liberdade. É isso o que de fato transforma o mundo.
Para tanto, o caminho é o de começarmos a nos liberar por dentro – na consciência – de tudo o que julgamos ser. Feita essa renúncia, básica, devemos desapegar-nos com coragem de hábitos e preferências, para ser efetivamente, no nível externo, o que somos nos níveis divinos do nosso ser interior.
Na nossa realidade interna somos filhos de Deus, centelhas cósmicas. Então, quando as energias nos encontram receptivos à ação delas por nosso intermédio, nossas possibilidades se ampliam. Mais conscientes, surpreendemo-nos fazendo muitas coisas necessárias, para as quais éramos antes incapazes.
Quando nos dispomos a servir ao Plano Divino, emerge tanta ajuda, tanto suporte, que o verdadeiramente necessário se faz presente de modo inexplicável; e, depois de viver tal experiência, já não podemos interromper essa contínua doação de nós mesmos. Ao renunciar a ser o que vínhamos sendo e ao deixar a Vida manifestar-se em nós, tornamo-nos espectadores dos fatos da nossa existência. Assim, vemos os dias e os anos se sucederem sem tédio nem cansaço, e sem a impressão de que o tempo se esgota, impressão que tanto atormenta alguns, que não encontraram esse caminho. Integramo-nos no eterno presente, que simplesmente é, que existe na eternidade.
E, quando por fim o matrimônio interior se consuma em nós, passamos a viver como almas libertas da ilusão e do sofrimento material. A partir daí estamos fora das limitações que por tanto tempo experienciamos, livres para exprimir nossa mais profunda essência.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário