29 de julho de 2010

O pecado nosso de cada dia

Já tem um tempo que eu venho querendo escrever sobre isso aqui, mas por diversos motivos vinha postergando.

Apesar de saber que as pessoas que geralmente leem meu Blog, me conhecem, sabem meu estilo, acho que nunca é demais pontuar algumas coisas.
O que escrevo aqui é a MINHA percepção sobre as coisas.
Não é nenhuma verdade absoluta ou muito menos conselho.
A nossa percepção das coisas é um misto do que vivemos com as coisas que temos em nós, ou seja basicamente nossa experiência pela vida.

Eu nasci prematura, de 8 meses.
Minha avó adorava me contar, sua primeira visita à maternidade para me ver. Dizia que eu cabia numa caixinha de sapato, de tão pequenina.
Meu pediátra era descendente de libanês - Dr. Saad (ouvi esse nome muitas vezes ao longo de minha vida, quando minha mãe queria explicar minha "gordurinha" ...)
E como como todo bom descendente de libanês, a cultura é de figuras corpulentas e fartas.

Basta dizer que aos 9 meses, o leite que minha mãe me dava era o semi-desnatado...
Era uma bolotinha fofa e gostosa. (Desde pequena já modesta! hahaha).
Fui uma criança gordinha. E como eu era gulosa.
Aliás, sou glutona até hoje.

Desde pequena fiz atividade física.
Fazia natação, ballet e GR (que naquela época era GRD)
GRD foi minha paixão por 12 anos.
fazia parte da equipe do Colégio Marista, pelo qual eu competia e viajava para competir.
E sim, eu era boa.
Perdi muitas vezes, mas fui campeã em outras tantas.
Mas a competição não era o mais importante.
A prática do esporte era um prazer indescritível, e guardo recordações muito felizes daqueles tempos.
Na adolescencia dei uma esticada, e foi quando conheci o Jazz, a aeróbica e a musculação.

Mas não é sobre minhas atividades físicas que eu quero falar. Escrevi sobre elas para contextualizar.

Enfim, sempre fui gulosa.
Gosto de comer.
Comer não é somente uma necessidade, é um prazer.

E sempre vivi nesse vai e vem do peso.
Ganho peso muito facilmente, mas perco peso na mesma medida.
Já fiz muitas dietas, já tomei remédio para emagrecer.
A soteropolitana corpulenta que nunca tomou mãe natureza que atire a primeira pílula.. ops, pedra.
Hoje vejo era sem necessidade.
Passei muito tempo da minha vida querendo ser diferente. Ser menor do que eu sou.
Sou uma mulher grande, ossos largos, pernão.
Perda de tempo.

O meu espelho interno é severo comigo, eu sei e estou sempre atenta à ele.
E quando me dei conta disso pela primeira vez, percebi que minha ansiedade diminuiu um pouco.
É uma matemática complicada, mas que percebo só pode ser descoberta, entendida e resolvida com nosso olhar amoroso para conosco.

Não acho que exista uma gorda no mundo que não queira ser mais magra.
Que se tivesse um gênio da lâmpada e pudesse fazê-la uma sílfide, ela não se renderia ao gênio.
Quem disser isso vai estar mentindo.
Esse gênio não existe.

Mas isso não quer dizer que ela deva viver condenada a não gostar de si mesma e de não desfrutar de seus prazeres. De viver infeliz e aprisionada ao que não pode ser.

Porém acho que não podemos ser condescentes com algumas coisas.
Não aprovo - digamos - esse padrão de beleza da magreza absurda. Deixa as mulheres feias e com cara de doente.

Mas a obesidade também não é mais saudável.
Acho que existe um sobrepeso tolerável, afinal de contas, com a idade o corpo muda, aumenta suas proproções.  Até aí, ok.

Cada dia mais me convenço de que a gente emagrece é pra poder engordar comendo tudo que tem direito.

Assim como qualquer outra, a compulsão à comida é perigosa e contra ela vou lutar minha vida inteira. (Pulsão é uma coisa, compulsão é outra).
De cara limpa, sem remédios ou subterfúgios.

Não gosto de estar acima do meu peso, e se estou acima dele, eu sei bem o porquê.
Entre 2008 e 2009 vivi uma crise existencial, um período de transição.
Parei de malhar e comia tudo que via pela frente, como uma forma de compensação com o buraco que eu estava sentindo por dentro, que ainda não havia sido preenchido.
Tomei essa atitude conscientemente e sabendo o preço a pagar.

Nem por isso, quis convencer ninguém de que ser gorda é "legal".
Até porque estaria mentindo.
Não quero ser gorda. Não mesmo.
Mas naquele momento, pesei prioridades, e não me importei em estar BEM acima do meu peso.
Essa fase também me mostrou como eu me relaciono com a comida.
É fome ou desejo ? Qual o papel dela ? Desejo de que ?
O que eu estava escondendo ou querendo compensar ?
Eu sabia bem as respostas.
Continuo sabendo.
Mas me dei um "break" pra organizar a casa.

E agora, com a casa organziada, estou perdendo aos poucos.
Sem nenhuma dieta louca ou mirabolante.
Mas com escolhas melhores na hora de me alimentar e também na hora de saciar um desejo súbito por um docinho.

Quero um brigadeiro ?
Ok, é um que vou comer então... e não 3, 4, 5...

A atividade física está voltando a ter seu lugar na minha vida.
Ainda brigo com o sono...
É díficil acordar pra malhar.
É difícil deixar passar aquele chocolatinho, sobremesa ou docinho.
Mas é muito mais difícil fica com a auto estima baixa.
Nos rendemos aos pequenos pecados e colocamos culpa nos padrões de beleza. (falo isso para as MULHERES, não para as meninas que são influenciadas diretamente por esses padrões)

Nós, mulheres maduras, usamos essas desculpas pra seguir nos sabotando com os pequenos prazeres e depois morrer de raiva do mundo, na hora de escolher uma roupa ou de ir á praia.

Esse espelho pertence a nós. Nenhuma outra pessoa tem esse poder sobre nós.
Mas muitas vezes, encobrimos nossos espelhos com figuras irreais, com discursos irreais,  ou surreais que são muito mais para NOS convencer do que convencer qualquer outra pessoa.

O discurso é o mesmo para qualquer complusão. Droga, distúrbios alimentares, magreza, obesidade... o que muda são os elementos. Mas a linguagem da psique é uma só: QUERO MAIS.

Se estou assim ou assada, gorda ou magra é um problema meu, uma questão minha.
A pergunta a ser feita sempre é: Estou feliz ?
E então abra seu coração para ouvir a resposta sincera.

Quer comer ? Coma.
Mas fique de bem com sua escolha, com sua atitude e tudo que vem com ela.
E comendo ou não, atividade física sempre, porque faz bem pro corpo, pra cabeça, pros hormônios e pra saúde.
Vivemos mais e melhor fazendo um esporte e canalizando nossa energia para esse prazer.
Nada é mais bonito e saudável do que felicidade de estar bem consigo.

Magreza não é sinal de saúde.
Mas gordura também não.

Mente sã, corpo são já diz o ditado popular.

Cartas para redação.
Bjo, me twitta.
@patmguerra

Ps. Na foto acima eu com 5 anos e em foto pouco antes da minha "crise".

PAGU
(Rita Lee/ Zélia Duncan)

Mexo, remexo na inquisição

Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Hi! Hi!...

Eu sou pau prá toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira
Nem sou puta...

Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem


Ratatá! Ratatá! Ratatá!
Parapá! Parapá!
Hum! Hum!...

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hi! Hi!
Fama de porra louca
Tudo bem!
Minha mãe
É Maria Ninguém
Hi! Hi! Eh! Eh!...
Não sou atriz
Modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima

Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Eu sou mais macho
Que muito homem...

7 comentários:

OLIVIA NADA PALITO disse...

Putcha que los pariu hein Patricia Guerra?!?! Esse texto vai ficar fritando no meu cerebro dias!!! Te odeio amiga!!! Hahahahahahahaha!! Excelente Pat! No fim, a gente acaba culpando o mundo, os sentimentos, os desafetos, os afetos, a mãe, o pai e o vizinho, e os padroes de sei lá quem pra justificar nossos excessos. Ser magérrima não é sinomimo de saude, assim como a gordura além da conta tb não. Mas não dá pra negar que a sociedade é cruel ao exigir algumas coisas que nem todo mundo é capaz de dar. E isso ela faz desde sempre. E tb não dá pra negar que a gente faz tudo e qq coisa pra estar inserido. O valor que a sociedade tem na nossa vida durante nosso desenvolvimento é sobrehumano. Até o dia em que a gente tem maturidade e confiança suficiente pra olhar pra si mesmo e bancar o que somos e como pensamos, sem o menor orgulho de rever tudo de tempos em tempos. Eu acho um crime, amiga, o que pregam por aí. Falo isso porque tenho uma filha de OITO ANOS, ela já demosntrou esse tipo de preocupação. Outro dia ela me disse que não ia comer uma banana pq engorda. Fora a minha participação no processo com a neurose em função de peso x altura. Cuidar da alimentação, fazer atividade fisica e beber muita agua são premissas para uma vida melhor, mais saudável. Mas o valor social é aprendido, quase imposto. Se vivessemos em 1950, nosso corpo, o de pessoas curvilíneas, com talvez mais carne do que osso, não seria vitima do nosso massacre de anosou seria? Ou o gordo não é sinonimo de derrota, coisa que o magronão é?! A referencia é meu questionamento hj. Esse é o ponto. Não dá pra negar a logistica. Não dá pra negar a influencia da midia e, com ela, uma sociedade inteirinha te julgando e condenando, te rotulando e fazendo considerações com base no padrão X, seja ele qual for. O padrão foi eleito com base em que, em quem? Pq ele existe Pat. Se vc passa por um momento dificil e emagrece, as pessas falam que vc sofreu. Se vc engorda, vc é relaxada e não cuida de si mesma. Mas nunca falam que vc sofreu. Existe uma referencia, sim amiga. E não dá Pat. Não é justo. Xingando ou não o mundo!

Beijo amiga! Amei!!

Patricia Guerra disse...

Déa
O que eu acho importante pontuar:
A maior referência que uma menina pode ter é sua mãe. E essa essa referência é contruída baseada em como é essa relação com a mãe. O externo ajuda, mas quem pontua essa relação q depois se torna a relação consigo mesma inicialmente é a mãe.

E acho que "cobrança" social existe pra tudo e sempre. Pergunte aos alcoolatras, aos viciados em drogas.
Se seu ponto é a referência - que claro, acho válido, o meu ponto são nossas eternas justificativas para seguirmos infelizes. E nisso ninguém tem culpa... tem influencia e talvez responsabilidade, mas culpa não.
E sentimento de culpa é o combustível que alimenta esse processo.
Desde pequena sempre fui muito eu, sempre ME ACHAVA. Me lembro uma vez na quarta série perdi um concurso de beleza e fiquei arrasada ... (como assim, eu era a mais bonita!!) hahaha com pança e tudo.

Acho que como qualquer outro processo, precisa ser acompanhado e curado, e ai ser o que se é, sem justificar a sociedade, os padrões, etc.
Fred explica... como sempre.

É uma longa discussão, as razões são muitas, quis expor meu ponto de vista baseada na minha história.

Bj!!

Anônimo disse...

Independente de estar gorda ou magra, só te peço uma coisa: deixa cabelo crescer como da foto!!!!!!!!!!! Lara

Marcela Oliva disse...

Xaxim,

Acredito que seu post fala de responsabilidade. Responsabilidade com as escolhas e depois assumi-las. O corpo é nossa morada. A gente estica. Puxa. Encolhe e tenta cuidar. O que não pode é o desleixo total. Estive ao seu lado nesse período. E a gente fez várias farras gastronomicas rsrs. Agora é hora, não de voltar, mas de seguir em frente.

Bjo

Vanessa Falcão disse...

Menina, vc escreveu isso pra mim, num foi? Rs!

Caramba! Minha estória é parecida, pois engordei por causa do estresse que veio junto com a minha decisão de ser independente, de sair de casa.

Desde então tenho vivido essa batalha com a balança e muito mais está em jogo... o meu eu! Minha auto-estima foi a zero e qdo tive uma crise de ciúme, que nunca tinha tido (sou aquariana, tenho plena certeza do direito de liberdade de cada um de nós), acho que morri e depois ressucitei.

Depois de tal crise, que confesso que ainda existe em mim, me dei conta que eu nunca fui e não sou assim! Não estou em busca de voltar a ser o que era, mas de ser melhor do que sempre fui... Tanto por dentro, como por fora...

O fato é que devagarzinho, já se foram 9 quilos desde dezembro de 2010... Vieram roupas novas, maquiagem, aprendi a usar colar!!! Acho que na verdade, tenho aprendido a me assumir como mulher!

Bjsss

Patty disse...

Oi Pat

Sou outra Patty, tbem amiga da Déa..
Concordo com absolutamente tudo q vc escreveu..
Ando nuns dias "comendo o nervoso", mas to BRAVÉRRIMA com o excesso de peso..
Tomei a difícil decisão de dizer não pra algumas coisas, pra poder desfrutar delas depois, quando estiver feliz com o espelho..
Estou te seguindo e quero sua visita!!! Vamos q vamos, em busca exatamente do que queremos, naõ do que querem pra nós :-)

http://desafiodeveraodapatty.blogspot.com/

LIZ PASSOS disse...

Tô atrasada, mas já tinha comentado por e-mail o quanto me motivei com esse texto.
Leio quase todos os dias, matérias q falam sobre alimentação, atividade física, etc, etc.
Mas aqui eu li a "minha" realidade.
Esse post foi p mim!!!!!..rs
Beijos