18 de novembro de 2009

O avesso do avesso do avesso do avesso



Cheguei de viagem de São Paulo e só consegui postar rapidamente.
Mas tive de dar uma parada pra escrever.
As coisas estão praticamente saltando do meu pensamento pra serem escritas...

Fiquei quase 2 anos sem ir em São Paulo.
Desde que voltei a morar em Salvador, essa é a primeira vez fico tanto tempo assim sem ir à Sampa.
Mas minha vida não tem sido - digamos- regular.
Então ou não dava tempo ou eu não tinha condições de ir.

Foi maravilhoso poder ir à Sampa essa semana que passou.
Agora, eu estou adaptada à vida soteropolitana. Minha vida tem sido aqui.
Então estar em São Paulo com esse novo olhar foi intrigante.
E tive sentimentos contraditórios em relação à São Paulo.
Que novidade... hahahaha...
Contradição é meu sobrenome.

Num primeiro momento me lembrei de coisas que me deixavam tristes.
Cinza é a cor do céu de São Paulo, pode até ficar azul vez por outra.
Mas de cada 7 dias, 5 são cinza.
E isso me afetava negativamente. Me deixava triste, até meio deprimida.
(Sou afetada fortemente pela cor do céu. Isso é claro pra mim.)

Ao andar de metrô me lembrei também que tinha um sentimento de solidão muito forte, quando morava lá.
E não aquela solidão que escolhemos sentir, tipo:
Eu preciso de vez em quando ficar quieta, no meu canto, sem muita gente ao redor.
É quase uma necessidade física.
Me torno até um pouco taciturna.
Preciso desse momento pra me recuperar energeticamente.

Mas a solidão quase que imposta.
Em São Paulo, esses momentos não eram exceções.
Eram regra.
Por motivos diversos.
Pela falta de tempo, pelo excesso de trabalho, pelo corre-corre, pelo muito tempo que se passa no trânsito. E pelo cansaço decorrente de se morar numa grande cidade como São Paulo.


Mas, me lembrei também da falta que eu sinto de coisas que só São Paulo tem.
Como disse Caetano, Sampa é o avesso, do avesso, do avesso do avesso.

A educação das pessoas.
A cortesia nas pequenas coisas.
O "por favor" e o "Muito Obrigado".

(Baianos são super calorosos e hospitaleiros. Mas são imperativos. E isso às vezes beira a falta de educação. E eu acabo me influênciando um pouco disso, faz parte da adaptação à cultura local.)

Mas sou apaixonada pela educação respeito com que os paulistas se tratam e tratam a sua cidade.
Engraçado, até esqueço que sou paulistana.
A cidade limpa, sem papel no chão.
Sem copos ou latas, chiclete ou bituca de cigarro ou pequenas sujeirinhas.
Então foi maravilhoso me reconectar com esse meu lado, mais civilizado, cidadão e polido.

(Não pense que virei uma "Fred Flingstone".
Não. Mas percebi que estava mais relaxada - digamos- com certas coisas.)

Outra coisa maravilhosa, foi estar na companhia da minha familia. Toda junta e unida.
Meus irmão moram em Sampa.
E por mais que sejamos diferentes, sinto muita falta de conviver com eles.
Principalmente com meu irmão Sérgio, de quem sou mais próxima e quem mora mais longe há mais tempo.
Além deles, também estar com meus tios e primos que eu amo demais.
Parecemos a Grande Familia.
Uma bagunça organizada e barulhenta... dou muita risada com nossas diferenças e similaridades. Amo demais. Muito bom estar juntos e sentir o amor de Família.

E não poderia deixar de fora das saudades os meus amigos.
Pôxa, não havia me dado conta do quanto eu estava carente deles.
Alguns pude encontrar, outros só falar ao telefone.
Alguns eu não vejo há anos.
Mesmo depois de ter encontrado um pequeno grupo, fui embora ainda saudosa.
É muita saudade pra uma pessoa só.

E vou falar uma coisa que talvez até não deveria.
Mas vou falar. Como diz Katia uma amiga do Esacalada, coração ardeu - tem que falar.

Havia esquecido como os homens paulistas são educados.
Lindos e educados. (hahahaha)
A D O R O homem educado, inteligente e que enxerga o que tem ao seu lado. Ou à sua frente.
E valoriza isso.
Expressa esse valor.
Valida esse valor.

Enfim, voltei e ainda estou saudosa.
Não deu pra matar a saudade.
Vou planejar umas férias ou algum curso pra mergulhar um pouco mais na cortesia, cultura e civilidade.
Faz falta.
E me fez bem.

Obs. Foto tirada na Estação Sumaré - momentos depois esse post tava quase pronto na minha cabeça.


SAMPA
(Caetano Veloso)

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas


Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

1 comentários:

Renata Rocha disse...

Q bom q escolheu a Bahia linda, de um jeito ou de outro a Bahia iria escolher vc... Bjokas!